segunda-feira, 21 de março de 2011

A grande festa multicultural ou o complexo de puxa-saco


Sorrisos e mais sorrisos. Muitas lágrimas. O povo emocionado. Ele estava entre nós. Séculos de história nos contemplaram pelos olhos dele. Em todos os lugares que o homem mais poderoso do mundo passou a comoção caminhou junto. Um frisson generalizado. O primeiro presidente negro da nação mais poderosa da face da terra. No cardápio nossas riquezas e belezas: picanha, capoeira, favela e taís araújo. Ninguém cabia em si. Ao invés de um homem negro, às lágrimas, abraçando o homem mais poderoso do mundo; toda uma nação, emocionada, abraçando o negro mais poderoso do mundo. Os tempos mudaram e, segundo consta, nós não estamos mais no mesmo lugar. Relativismo histórico. Eu queria saber em que lugar se enfiou aquela quantidade impressionante de anti-imperialistas que esse governo abriga. Tá, tudo bem, eu sei. Levaram um pito que os obrigou a ficarem quietos nos seus cantinhos, e ainda ganharam de brinde além de uma diversidade impressionante de sorrisos fáceis do visitante e do vestido verde e amarelo da primeira-dama, a autorização para que se atacasse a Líbia dada daqui mesmo, para tristeza do amigo-irmão do homem de pernambuco. Ver as costas dos quatro visitantes olhando impressionados para o nosso Cristo nos encheu de orgulho, nacionalismo bocó, mas ainda assim nacionalismo. Eis outro grande homem. Estamos nos acostumando a caminhar lado a lado com gigantes, pessoas que fazem a história ao vivo, que alegrarão nossas velhices, pois poderemos falar saudosos: "houve um tempo...". Bunga! Bunga!


Sorrir ou aplaudir eis a questão. Na dúvida aplaudia-se com os olhos até, sorriam com as mãos. Nunca se viu capoeira pior, mas ainda assim palmas. Ministros seriam revistados sem piedade se deixassem, mais palmas. Caos e transtorno para o Luciano Huck fazer o beija mão, quem gostou caldeirão pode bater palma. Filho do prefeito tira foto e sai comemorando, vergonha alheia e muito mais palmas. Presidente fala que a mãe dele adorou o filme Orfeu, filme esse que aqui ninguém lembra de ter sequer imaginado que existiu, mais mais palmas. E o Jorge Ben Jor? Palmas. E o Paul Coelo? "Com a força do nosso amor e da nossa vontade, nós podemos mudar o nosso destino e o destino de muita gente". Chega dessa porra de palma que aí já deu também, né? Mas os vencedores (i)morais da visita foram sem dúvida o prefeito e o governador do Rio de Janeiro. O prefeito que elevou a tietagem ao extremo da educação moral e cívica. Não contente em ser subserviente, ainda ensinou ao filho as artes e mumunhas do negócio. Uma pergunta tostines: um puxa-saco nasce puxa-saco ou precisa de bons professores puxa-sacos? E o governador então, esse que sempre foi hors concours em puxa-saquismo do Lula, agora está exportando sua expertise e agora é um puxa-saco internacional. Aí já deu, não? Qual a razão de terem aceitado esse circo todo? Parar o país para vermos o que mesmo? Ah é, a história se fazendo. Ainda mais agora que descobrimos que a arte de puxar o saco é universal. O que foi o discurso do Obama? Uma bem atada e bem organizada versão de afagar o ego (ou saco) alheio. Perfeito em diversos instantes, não esqueceu ninguém, agradou gregos e baianos; pernambucanos e vascaínos.

Sinceramente, os EUA continuam e continuarão EUA, com Obama ou não, Não vai ser a fala mansa e 'esperrta' de Obama que irá mudar a história (os jornalistas pretendem que sim, mas uma grande maioria são rematados puxa-sacos). Quem sabe ele consiga ressuscitar o ensino da retórica, que aqui é terra tombada de advogados do diabo e nada mais, pois o Paulo Coelho não precisava daquela mãozinha, já que, sozinho, deseducou pelo menos uns três presidentes americanos, e depois ainda procuram a razão da crise econômica, quem mandou eleger presidentes que leem Paulo Coelho? Nem os nossos leem (FHC não, e Lula não consegue ler nem Chico Buarque). O que é preciso entender dessa visita-show é que nada fará com que o império que está acuado depois da crise, seja menos império. As maiores contribuições de Obama, até agora, se resumem a ser o primeiro negro a se tornar presidente americano; na sua frase de campanha, "sim, nós podemos"; na sua mulher que desfila graça e vestidos lindos; e, o principal, é que ele consegue discursar em qualquer lugar que estiver e agradar a todos falando platitudes em textos bem construídos. Hoje, que venha o melhor da festa, falar mal da visita, voltar aos velhos brios de anti-imperialista, queimar umas bandeiras ianques, que ontem na rua não podia, não devia, não era de bom tom. Goodbye gringo. Era necessário sua visita para comprovarmos que sim, o complexo de vira-latas acabou, agora, somos rematados puxa-sacos, uma grande evolução.


s.e.s.

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