segunda-feira, 28 de março de 2011

Diálogos sobre diálogos

Sabe como enfrentar o medo? Tendo medo de ter medo. Montaigne dizia isso: "a coisa que mais tenho medo é de ter medo", concordo. Mesmo que em momentos extremos eu não saiba como evitar que minhas pernas tremam, que minha voz não saia, que meus gestos percam-se na tentativa e no não acontecer.

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"Eu que tantos fui", Borges começa assim um dos seus inumeráveis poemas. Sempre me pego perguntando se essa monomania borgiana, essa obsessão pela repetição temática não está na raiz do seu sucesso. Repetir, repetir, repetir, até isso se tornar um estilo, foi Manoel de Barros quem escreveu isso ou algo parecido; Borges escrevia diversas vezes o mesmo conto, o mesmo poema, olhando para eles por um ângulo diferente e o resultado é que sempre parecia que estava falando algo novo, mas nada mais era que repetição.

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Pergunta ingênua: qual a razão das televisões brasileiras nunca passarem na sessão da tarde um filme argentino? Um filme chileno, uruguaio, mexicano, paraguaio (no Paraguai fazem filmes?); pois é, vou dar um chute, filmes latinos trazem uma realidade próxima a da brasileira, pobreza, lugares ermos e feios, corrupção, pessoas que fogem ao estereótipo dos filmecos americanos, logo, não existe o menor interesse de ninguém para que esses filmes sejam vistos. Por uma sessão da tarde menos idiota poderíamos criar uma campanha assim. Será que rolaria? Nunca vi ninguém defender nem o cinema brasileiro, quanto mais os dos hermanos de desgraça.

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O Brasil vive um momento de ufanismo total. Ser brasileiro está na moda, estamos surfando na crista da onda. Aqueles que ousam apontar defeitos, qualquer defeito que seja, são apedrejados até a morte da voz, como foi Madalena em alguma realidade alternativa. Mesmo assim, em meio a tanta coisa superlativa acontecendo, não consigo entender a razão da educação continuar um lixo. Sendo tratada com pão-de-ló estragado da publicidade, com professores desanimados e loucos para abandonar o barco antes que a insanidade os alcance, ou que algum aluno aponte para eles dedos de Judas ou pais os ameacem de morte por não passarem o filhinho querido do coração, mesmo que esse filhinho seja o pior aluno da sala, quiçá do mundo.

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O silêncio pudoroso de Dilma vem sendo confundido com talento. Os jornalistas - esses seres emblemáticos - vivem a tecer loas ao "estilo" criado por ela. Toda uma estratégia de marketing pra colar nela a imagem de uma pessoa que fala pouco e faz muito, justamente para ser uma oposição ao estilo Lula que falava demais e segundo a lenda fazia demais também. O importante é que acreditem que ela seja diferente onde tem que ser diferente e igual onde deve ser igual, afinal ambos são grãos de soja colhidos no mesmo campo, o do populismo. Em sendo assim ela só fala de vez em quando, em conversas e discursos escolhidos a dedo, mesmo assim, nesses momentos, transparece aquela mulher de pensamento e fala tortuosos e complicados de se entender; algo de bom nisso, está para ser criado uma profissão do futuro: tradutor e intérprete do dilmês que ela fala. Professores de Letras à postos, vamos mergulhar nesse lodaçal - ops - nesse mar de informações e colocar mãos à obra:

“Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer à cena política e social milhões de homens e mulheres que viviam à margem dos mais alimentares (sic) direitos de cidadania”. (Dilma discursando na visita do Obamis)


“Na minha humildade, né, no meu chinelo da minha humildade, eu gostaria muito de ver o Neymar e o Ganso. Porque eu acho que 11 entre 10 brasileiros gostariam. Porque deu alegria ao futebol. Porque, a gente… Eu vi. Cê veja, eu já vi. Parei de vê, voltei a vê. E acho que o Neymar e o Ganso têm essa capacidade. Fazê a gente olhá.. Porque é uma coisa que, né, mexe com a gente. Tem esse lado brincalhão e alegre”. (Dilma batendo uma bolinha com a língua mátria)





s.e.s.

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