quarta-feira, 15 de julho de 2009

Jean Charles


Quando vi Selton Mello em A Mulher Invisível, quase não o reconheci. Selton se gaba por não fazer novelas, não quer ser um “burocrata da televisão”, como ele mesmo diz. E no entanto, fez um filme que é composto majoritariamente por estrelas globais. Já cri desde o princípio que o longa não seria de todo bom. Porém, fui vê-lo confiante no potencial cômico de Selton. Ledo engano. Selton se esmera mais uma vez na sua interpretação. Mas o roteiro é sofrível. Para preencher lacunas, Selton se vale de trejeitos que soam artificiais, exagerados, incapazes de provocar o riso em que consiga usar de mais dois neurônios pra pensar. Outra interpretação que vem funcionar como tapa-buraco é a de Luana Piovani. Que surge sempre sensualíssima para ocultar eventuais falhas. A grande virtude do filme é Fernanda Torres, quase sempre impecável mesmo num papel de pouco destaque. O filme arrastou milhões ao cinema que certamente saíram de casa com dois intentos: rir e/ou ver Luana Piovani pelada. Não conseguiram nem uma coisa nem outra. Somando-se tudo, a impressão que fica é que Selton fez esse filme por dois motivos: ganhar dinheiro e dar carona ao público para ver seu outro filme, Jean Charles.
Agora Selton Mello, em Jean Charles, são outros quinhentos. Resumidamente todo mundo conhece a historia: “o brasileiro que morreu no metrô de Londres”. Isso é o básico de tudo, o que foi falado por um bom tempo nos jornais. Mas o filme é mais que isso, como Selton tem ressaltado em suas entrevistas. Dessa vez, pode-se ver realmente o que acontece com os brasileiros que vivem fora do país, sem aquele romanceado com uma novela da globo tentou contar o mesmo fato tempos atrás. Fora do pais, ninguém é totalmente honesto ou totalmente desonesto. Ninguém age desinteressadamente. A ideia de fraternidade só surge quando pode haver reciprocidade, troca de favores. Jean Charles é assim, pois já começa a trama engabelando as autoridades para que a prima, de quem é apenas amigo o tempo inteiro, possa ficar na cidade. Em Londres, há brasileiros por toda parte, todos se conhecem. Todos se ajudam quando sabem que podem ser ajudados futuramente. Oportunistas? Não! São apenas pessoas que não desperdiçam bondade porque sabem que precisam sobreviver. Jean Charles é um filme de lágrimas e risos. Nesse quesito, Luís Miranda que o diga!
t.c.s.