quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Os políticos da minha infância

Ah que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida de quando eu acreditava nos políticos.

Nesse tempo ao contrário de todos e por incrível que pareça, o meu passatempo favorito era assistir ao horário político. Sempre tinha os meus candidatos prediletos e aqueles que eu odiava. Tinha também os comédias, que eu assistia só para dar risada das bobagens que falavam, esses ainda existem e são os únicos que provocam em mim as mesmas reações do passado. Os prediletos nunca me decepcionaram porque na maioria das vezes nem eram eleitos e quando eram enchiam as ruas de praça, de asfalto, e um festival de propagandas enganosas na tv e tudo isso me fazia crer que estava tudo as mil maravilhas. E os que eu odiava faziam de tudo para eu odiá-los ainda mais, com a velha mania de fazer oposição.

Mas o que me indignava mesmo era o fato de eu não poder votar, logo eu, que me julgava tão consciente das minhas opiniões. Por que me privavam de um direito que eu já sentia capaz de exercer?

Políticos para mim eram verdadeiros ídolos, figuras inalcançáveis, ficava emocionado quando encontrava com um numa dessas reuniões de bairro. Quando apertava a mão do corrupto então, me sentia realizado.

Chegava ao cúmulo de fazer coleção de santinhos, tinha sempre uns que eram raríssimos de encontrar, talvez os dos mais pobres, ou os que eu mais gostava. Teve uma vez que cheguei a achar que aquilo já era demais, pus fogo em tudo. Ah, como me arrependi depois, sai catando de volta tudo pelas ruas no dia da eleição.

Dia de eleição sim, esse sim era um dia de orgasmo para mim. Ficava a todo momento avisando aos familiares de como estava o andamento da fila. Ficava na janela das seções bisbilhotando, tentando ver em que a pessoa estava votando, logo essa ou o fiscal fazia um gesto de reprimenda para mim e eu saia correndo crente que ia fazer tudo de novo.

Quando surgiu a urna eletrônica, aí que eu não me agüentei de todo. Por que diabos eu não podia também dedilhar aqueles botõezinhos mágicos? Aquele barulhinho do verde de confirma me corroia. Quando que eu ia também poder desfrutar de tudo aquilo?

Acompanhava empolgado meus pais, na esperança de que ia poder assistir a votação deles, claro que isso nunca aconteceu.

Até que um dia votei pela primeira vez, no auge dos meus 16 anos, mesmo não sendo obrigado. Votei e vi que isso não tinha a menor graça. Uma longa fila, desconhecidos e conhecidos querendo puxar assunto. Já diante da urna, em menos de 30 segundos dei a oportunidade de mais um safado se eleger. Por sorte, nenhum dos meus candidatos ganhou, não favoreci corrupção.

Hoje o tempo passou e assisto com pesar a minha burrice. Jamais acreditei em Papai Noel e acreditei em políticos, logo eles que foram responsáveis por um passado de horror. Não sou mais criança e ninguém mais quer me pegar no colo quando estou com o nariz escorrendo e dizer que eu sou o futuro do Brasil. Assisti de muito perto os meios ilícitos de se chegar ao poder. Assessores invadiam minha casa e compravam a consciência de meus pais por míseros R$50,00, um carguinho de cabo eleitoral para alguém da casa, uma indicação para algum outro emprego, uma laqueadura ou uma vaguinha na creche do bairro para as crianças, qualquer coisa do tipo e o crime estava assegurado. Não vou me fazer de santo, também já recebi uma dessas quantias irrisórias, mas não votei no sujeito. Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão.

Como acreditar em mudanças? Corruptos elegem corruptos. Ingênuos elegem vilões. Enganados elegem enganadores.


t.c.s.


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