quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Orgasmo Literário


Assíduos leitores têm a péssima e maravilhosa mania de querer e tentar fazer com que o mundo inteiro saia lendo de uma hora para outra, claro que obrigatoriamente que essa literatura seja Literatura de máxima qualidade e não apenas um mero volume comercial que enfeitam as mãos e despertam maciços comentários. Laboriosa missão, essa de seduzir intelectualmente.

Hoje há ainda que de forma inconsciente a tentativa de se excluir o prazer tátil das coisas belas. A tv já fincou seus fios na parede do canto da sala há quase seis décadas. A internet dispensa a presença física até para fazer sexo. Um envia desenvia de foto por celulares e máquinas digitais que não acabam mais. Jornais que se abrem na tela do computador. Até o pão vem no saquinho plástico, o que dá pra perceber que o papel parece querer fugir das nossas mãos. Para muitos bons amantes da celulose, isso só passa de mera divagação. Quem dera fosse, historiadores já se preocupam com o que anda sumindo dos computadores de Bush. Para muitos internautas que rezam faz tempo suas cartilhas virtuais, livro já é coisa do passado.

Leitura parece ser coisa obsoleta para novas gerações, se restringem apenas ao bom internetês de orkut e msn. Ás vezes é com certo pesar que se esculhamba paulo coelho, códigos da vintte, augusto curi e outros do estilo auto-destruição. Será que realmente é melhor não ler nada do que usufruir de tais obras? Será que uma crítica ferrenha a ídolos comerciais não poderá acarretar em algo traumatizante e não-leitura de mais nada? Uma repulsa a qualquer nova e boa sugestão como forma de protesto?

Ler é de fato um prazer único que só se descobre experimentando, como tudo na vida. Se é bom ou ruim. Se vai gostar ou não, são coisas que só podem ser descobertas depois do primeiro contato e muitas vezes mais que um. Todo mundo precisa ter o livro da sua vida. Aquele que merece sempre ser indicado, mesmo que ninguém aceite tal sugestão. Esse é o grande barato, o virgem literário nunca vai conseguir comer a primeira obra por meio de indicações. Afinal, as bibliotecas são como prostíbulos de luxo e os livros são damas da noite que exibem ao menos seus perfis para encantar os olhos de transeuntes desavisados ou não, são personificações da tentação, são imãs inevitáveis, são fogos paradisíacos para quem quer se queimar.

Ler é como uma droga. A primeira vez que se experimenta um prazer estonteante contamina todo o corpo, desnorteia os sentidos da alma e da mente, na segunda talvez nem tanto, mas na terceira parece que vem, ou na quarta não vem nada, mas o fato que a única possibilidade que existe de alcançar o velho prazer inicial é aumentar cada vez mais a dose, até morrer com a overdose do saber.

Para se gostar de ler é indispensável uma sensação indizível, que se rende apenas a míseros sussurros de silêncio para poder sentir, atingir o inatingível, um prazer totalmente individual. Ah, meu caro! Para se gostar de ler é preciso ter as pontas dos dedos muito apuradas, muito sensíveis, sensatas, inconseqüentes, libidinosas, ainda que românticas, para que elas possam ir lá ao clitóris, no ponto G da literatura e nesse mesmo momento proporcionar e ter algo que não se alcança nem mesmo com a indicação dos mais doutos leitores, o prazer inenarrável do principio da infinidade, o prazer de ser ter o primeiro orgasmo literário.

t.c.s.

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