Idosos, debilitados ou não, são vistos todos os dias com suas vidas insistentes pelas ruas. Amargurados
Políticas baratas é a única coisa que o desgoverno faz para homenagear os patriarcas e matriarcas de quem já levaram tudo, até a dignidade. É muito cômodo apontar a falta de escolaridade dessas pessoas como o fator responsável pelos seus Estados de miséria. Eles não estudaram porque usaram esse tempo para enriquecer calhordas que só têm o poder de usurpar até a alma dos humildes com a desculpa de que o trabalho dignifica o homem. Onde está a dignidade de pais, mães, avós e avôs, quando precisam dos postos de saúde? Por que é que precisam implorar a piedade da burocracia para conseguir uma aposentadoria de fome? Nessas horas já não importa a força braçal desses seres. Já ninguém lembra se hoje a agricultura rende milhões nos bolsos de alguns é porque alguém lá atrás plantou sementes que eram quase como moedinhas de ouro. Mas que importância isso tem né?
Agora apenas a velhice aparente desses homens e mulheres é o que os envolve numa compaixão, numa bondade alheia, que se resume no máximo à gentileza quase obrigatória do jovem que cede o lugar à senhorinha que cambaleia dentro da condução lotada que mais parece uma cela de penitenciária em dia de rebelião e, a preocupação social desse jovem se finda apenas num sorriso forçado depois da sua boa ação do dia. Rugas, ossos fragilizados, mãos trêmulas, visões e audições inexistentes, tosses, espirros, são os únicos troféus, as medalhas de honra ao mérito que os nossos heróis derrotados podem ostentar quando continuam no suposto convívio familiar, pois toda a vida que outrora dava indícios de um futuro glorioso se dissipou dando margem à impaciência dos filhos e netos que se cansam de ouvir as velhas histórias, não passam de estorvos para os seus descendentes e para o poder público. Os feitos dos idosos não os levaram a lugar algum, precisam agora transpor suas reminiscências às atividades próprias para a idade e saúde. O que podia existir de melhor na abordagem tradicional das escolas se perdeu, o culto ao passado, a vontade de valorizar as grandes obras da humanidade. Valorizar obras, feitos! E não formas físicas decadentes que todos nós estamos arriscados a ter um dia.
Parece que só os idosos comuns, anônimos, são lembrados pela idade que têm e não pelas façanhas gloriosas da juventude. Ninguém se solidariza com a idade avançada de Fernanda Montenegro, Jô Soares, Laura Cardoso, Ariano Suassuna, Bibi Ferreira, Paulo Autran e tantos que assim como muitos outros brasileiros também estão em plena atividade, ainda que desconhecidos. O que é arte nessas horas? Será que insistir pela vida no meio de tanta miséria, de tanta humilhação e ainda conseguir escancarar sorrisos e simpatia no meio de todo esse inferno urbano também não é uma forma de arte digna de mídia, de admiração de todos os intelectuais e todas as possíveis homenagens?
Só desordem e retrocesso no meio das vinte e sete estrelinhas que cada dia brilham menos...
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