sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Melhor idade?

Idosos, debilitados ou não, são vistos todos os dias com suas vidas insistentes pelas ruas. Amargurados em hospitais. Lugares reservados ocupados dentro do ônibus. Ações sociais que querem lhes dar prazer, os bailes da terceira idade. As praças refesteladas de dominós e damas. Trabalhadores da informalidade: pipoqueiros, picolezeiros, vendedores de churros, de chipas, camelôs. Vítimas de mais um terrível descaso social.

Políticas baratas é a única coisa que o desgoverno faz para homenagear os patriarcas e matriarcas de quem já levaram tudo, até a dignidade. É muito cômodo apontar a falta de escolaridade dessas pessoas como o fator responsável pelos seus Estados de miséria. Eles não estudaram porque usaram esse tempo para enriquecer calhordas que só têm o poder de usurpar até a alma dos humildes com a desculpa de que o trabalho dignifica o homem. Onde está a dignidade de pais, mães, avós e avôs, quando precisam dos postos de saúde? Por que é que precisam implorar a piedade da burocracia para conseguir uma aposentadoria de fome? Nessas horas já não importa a força braçal desses seres. Já ninguém lembra se hoje a agricultura rende milhões nos bolsos de alguns é porque alguém lá atrás plantou sementes que eram quase como moedinhas de ouro. Mas que importância isso tem né?

Agora apenas a velhice aparente desses homens e mulheres é o que os envolve numa compaixão, numa bondade alheia, que se resume no máximo à gentileza quase obrigatória do jovem que cede o lugar à senhorinha que cambaleia dentro da condução lotada que mais parece uma cela de penitenciária em dia de rebelião e, a preocupação social desse jovem se finda apenas num sorriso forçado depois da sua boa ação do dia. Rugas, ossos fragilizados, mãos trêmulas, visões e audições inexistentes, tosses, espirros, são os únicos troféus, as medalhas de honra ao mérito que os nossos heróis derrotados podem ostentar quando continuam no suposto convívio familiar, pois toda a vida que outrora dava indícios de um futuro glorioso se dissipou dando margem à impaciência dos filhos e netos que se cansam de ouvir as velhas histórias, não passam de estorvos para os seus descendentes e para o poder público. Os feitos dos idosos não os levaram a lugar algum, precisam agora transpor suas reminiscências às atividades próprias para a idade e saúde. O que podia existir de melhor na abordagem tradicional das escolas se perdeu, o culto ao passado, a vontade de valorizar as grandes obras da humanidade. Valorizar obras, feitos! E não formas físicas decadentes que todos nós estamos arriscados a ter um dia.

Parece que só os idosos comuns, anônimos, são lembrados pela idade que têm e não pelas façanhas gloriosas da juventude. Ninguém se solidariza com a idade avançada de Fernanda Montenegro, Jô Soares, Laura Cardoso, Ariano Suassuna, Bibi Ferreira, Paulo Autran e tantos que assim como muitos outros brasileiros também estão em plena atividade, ainda que desconhecidos. O que é arte nessas horas? Será que insistir pela vida no meio de tanta miséria, de tanta humilhação e ainda conseguir escancarar sorrisos e simpatia no meio de todo esse inferno urbano também não é uma forma de arte digna de mídia, de admiração de todos os intelectuais e todas as possíveis homenagens?

Só desordem e retrocesso no meio das vinte e sete estrelinhas que cada dia brilham menos...

t.c.s.

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