quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Eros uma vez...

Por aqui comenta-se, incita-se fagulhas para a fogueira inquisidora da médica que fazia aborto há mais de vinte anos. Mas talvez num ímpeto de loucura ela merecesse até um prêmio Nobel. Será que se ela não fizesse tais serviços, as moças que procuravam sua clínica iriam mudar de opinião? Esperariam lindos longos noves meses, com um marido apaixonado assistindo tudo? Receberiam de braços abertos o fruto do amor, lhe dando toda a educação necessária? Ou será que não recorreriam a formas de abortos artesanais e horripilantes? Ou será que não aceitariam a criança para transformá-la em mais um ser de nariz escorrendo, barriga vazia, acompanhado do fundo musical da mãe que entoa insistentes berros estridentes, é o som da miséria. Lógico que suas intenções eram as mínimas sociais possíveis, a prática lhe rendeu um patrimônio de mais de R$ 9 Milhões, segundo o Ministério Público Estadual. Porém há males que vem... Para... Pior.

Nessas horas surgem os mais diversos interessados preocupados com o bem estar de todos. Os que são desfavoráveis ao aborto passam a enumerar uma infinidade de soluções para uma gravidez indesejada. Camisinha masculina e feminina, pílula anticoncepcional, pílula do dia seguinte, laqueadura, vasectomia e, se duvidar até tabelinha e coito recolhido. Muito fácil chegar com o balde d’água depois que o incêndio já destruiu todo o patrimônio histórico. Pelo visto é impossível lembrar os acontecimentos que antecedem uma gravidez, ou até mesmo o próprio ato sexual que é muito prático de ser feito e bem menos exigente, uma das poucas coisas praticadas em todas as classes sociais.

Para as mais desfavorecidas onde se encontram diversos problemas; a baixa escolaridade, o emprego ruim ou até a ausência de nenhum, péssimas moradias em péssimos lugares e obviamente sem nenhum lazer, a única diversão que lhes resta é sexo. Por isso teorizá-lo não é a melhor saída. Deve ser feito livremente, sem burocracia, sem parâmetros, se assim não for vai parecer mais um requerimento em repartição pública do que um ato de amor ou de prazer que seja. Por isso surgem olhos atarantados, discursos moralistas, jurisprudenciais, sobre o futuro da família possuidora da penca de filhos. Não pensa na hora de fazer? É claro que não. E quem pensa? Quem se previne já é praticamente movido por automatismos, estigmas sociais. Mas pensar... Julgar é muito simples.

Continua...

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