domingo, 5 de agosto de 2007

Baixio das bestas

“No cinema você pode fazer o que você quiser”, essa é uma das falas do personagem do inoxidável Matheus Nachtergaele. Pode realmente fazer o que quiser, principalmente enganar o espectador na maior cara-de-pau. (já explico!)

O filme é de uma realidade cruel, que sangra os olhos de quem vê. Tem tudo o que não presta. Pedofilia, prostituição em prostíbulos de quinta categoria, drogas, bebedeira, violência, insensatez, má fé. Enfim uma coletânea de catástrofes.

Tudo se passa num cenário de um aparente pacato vilarejo da Zona da Mata de Pernambuco. Heitor, um idoso taciturno e moralista (Fernando Teixeira), se vale das vantagens do velho ditado que diz que a desculpa do aleijado é a muleta. Impossibilitado de trabalhar vê a neta Auxiliadora (Mariah Teixeira) - li em resenhas que na verdade também é sua filha - como sua galinha de ovos de ouros. Obriga-a trabalhar de lavadeira e para reforçar o orçamento leva a menina todas as noites para um posto de gasolina e lá a expõe nua, como uma estátua sexual viva, para o deleite de caminhoneiros e outros homens acéfalos, ninfomaníacos e pedófilos. Não havia sexo, pois o velhote e veiaco sabia que se isso acontecesse, a jovem poderia fugir dele e seguir o caminho da prostituição por si própria. A interpretação da estreante Mariah Teixeira é singular, fulgurante, marcada por cenas quase sempre silenciosas, impregnam-se os gestos, os olhares, as expressões melancólicas, angustiantes que surgem em seu rosto e dão um quê de desespero, de fuga.

Em um outro ambiente, liderado por Everardo (Matheus Nachtergaele) e Cícero (Caio Blat ) tudo é regado com muita bebedeira, drogas e messalinas, mulheres que são tratadas como animais de fazer sexo, entre elas destaca-se a brilhante interpretação de Dira Paes, uma biscatinha que consegue marcar como ninguém sua presença na trama. Nesse axioma infernal paralelo à história de Auxiliadora, passa a se desenhar qual será o futuro da heroína derrotada, isso se ela continuar viva.

Uma realidade monstruosa que escapou dos interiores do brasil- afinal não é só no massacrado Nordeste que isso acontece- e veio para na tela dos cinema para açoitar os olhos de quem está acostumado com finais finalizes, com verdades aproximadas, eufemezidas. Não! Em Baixio das bestas é tudo cru. Uma denúncia de impunidade, de passividade de um país que se fecha para um crime hediondo que acontece todos os dias.

Cláudio Assis, o mesmo diretor de Amarelo manga, vem mais uma vez para causar polêmica e pregar peças. Saí da sessão indignado, crente de que a protagonista se tratasse de uma criancinha de seus 11,12 anos, quando na verdade tem 22. Algo no mínimo impressionante! São os milagres da atuação! Se queria mostrar realidade, conseguiu! Para os incrédulos de tal façanha, que tiveram o mesmo pensamento que eu, aí vai o link, o site é da globo, que não é fonte muito fidedigna, mas vamos dar um voto de confiança, só dessa vez!

Para quem diz que o filme é chocante, eu assino. Não é indicado para pessoas sensíveis emotivas, estas estarão fadadas ao vomito ou choro. Além de tudo é feio, horroroso, além de toda a problemática dos mais variados submundos, de quebra ainda tem a nudez magerrissima de Matheus Nachtergaele e Caio Blat para comprovar o quão medonho ele é.

t.c.s.

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