sábado, 29 de dezembro de 2007

Cinco luxos e um lixo

Para quem quer fugir do burburinho das festas de finais de ano, nada melhor do que se refestelar no sofá de casa com um cinema particular. Aí vão as dicas! Não se espante se não encontrar nenhum lançamento super recente, pois a idéia é justamente essa, a de encontrar pérolas esquecidas nas prateleiras das locadoras. (Se é que com essa onda de camelô e Dreamule alguém ainda sabe do que estou falando.) Com dez reais diversão e arte estão garantidas.
Ah, qualquer semelhança com uma coluna da Super Interessante é mera coincidência.

O pecado mora ao lado. A lindíssima Marilyn Monroe está simplesmente perfeita. Trata-se de uma época em que as mulheres enlouqueciam os homens sem mostrar nem a ponta do tornozelo, pois nisso se consiste o grande segredo feminino: insinuar e nunca escancarar. Sua personagem cumpre com êxito estes quesitos, levando literalmente à loucura o vizinho que está sozinho em casa enquanto a esposa está de férias com o filho. Ingênua, inocente, provocante, sensual, displicente, totalmente sedutora, e é claro MA-RA-VI-LHO-SA! E sem falar que é chance de ver em seu contexto original a cena mais repetida e imitada do cinema, aquela do vestido branco e esvoaçante sobre o vento do metrô. Quem é que nunca viu essa cena.



Tempos Modernos. Charlie Chaplin, este é simplesmente obrigatório a todo ser humano pelo menos uma vez na vida, ver um de seus filmes na íntegra. Afinal estamos falando do maior que já existiu no mundo. Nunca ninguém falou tanto usando o silêncio. Suas comédias não foram feitas para o sujeito se jogar no chão de tanto rir, pois mais que qualidades cômicas sua atuação é sempre repleta de uma ironia que inevitavelmente leva à reflexão, para quem quiser fazê-la, é claro. Tempos Modernos não fica atrás. Ao estudar Revolução Industrial, muitos alunos já foram obrigados a assisti-lo sob o argumento da professora que dizia que a obra é raríssima de se encontrar e que pegou emprestada não sei com quem e tem que devolver urgentemente. Mentira leviana, qualquer boa locadora a tem, e em DVD. Ademais Carlitos nem exige tantos adjetivos, é assistir e tirar as próprias conclusões.
Adeus, Lenin. Para quem quer fugir da atual duplinha efeitos especiais e pouco roteiro, essa é a excelente pedida também para quem quer se embrenhar de fatos históricos. A produção alemã usa uma ficção para falar da rivalidade entre as duas antigas Alemanhas. Mas do que isso é a oportunidade de ver até onde pode chegar um ilimitado amor filial de um garoto que reconstrói um país perdido para não abalar a saúde de sua mãe. É ver e entender do que falo. Entretanto não se esqueça que a narrativa corre lenta e melancólica, se estiver com um pouco de sono, é pestana na certa.

Prenda-me se for capaz. Rostinhos bonitos, atores milionários, enfim cinemão americano, porque ninguém é de ferro. Mas este com a peculiaridade de realmente valer a pena. Leonardo Di Caprio depois do furor que causou com as mocinhas fanáticas por Titanic, provou que é também um ator com qualidade para desempenhar papéis mais embasados. Mesmo antes já o tinha feito, como se pode ver no brilhante Aprendiz de sonhador. Desta vez em Prenda-me se for capaz, nas contracenas com o detetive interpretado por Tom Hanks, Di Caprio faz um tremendo pilantra a distribuir cheques sem fundo e se disfarçando de piloto e médico para fugir das mãos da polícia. Destaca-se também a inacreditável cena quando ele se matricula num curso de francês e para fugir do gelo do primeiro dia de aula resolve que a melhor saída é se passar por professor. O filme já teve a infelicidade de ser exibido pelo Super Cine, com a maldita dublagem é claro, por isso valer a pena trazê-lo para casa e ver tudo no original.

Fale com ela. Pedro Almodóvar, este nome sempre divaga na cabeça dos leigos cinematográficos que quando interpelados sobre, sempre saem com o subterfúgio do “já ouvi falar”. É uma irresponsabilidade ficar perpetuando a desculpinha esfarrapada. Para quem ainda não viu nada do renomado diretor, pode sim começar com essa que é uma das suas mais recentes produções. Dois homens que se encontram numa mesma adversidade da vida. O primeiro é um enfermeiro que se apaixona pela paciente em coma que já havia conhecido antes, sem ter com ela qualquer envolvimento. O outro ao contrário deste, padece ao lado da namorada que também está em coma, mas não consegue lhe dizer uma única palavra e todas essas vidas vão se entrelaçando cada vez mais. Uma história de amor, loucura, frieza, solidão, paranóia, infelicidade, medo, inconseqüências. “Cores de Almodóvar” como cantaria Adriana Calcanhoto, falando nisso música brasileira é o que não falta no filme. Para quem for seguir a minha lista, pode começar com esse para abrir com chave de ouro.

Um amor para recordar. Ao longo deste ano moças e rapazes, homens e mulheres me fizeram inúmeras e apaixonadas recomendações sobre o tal filme que ilustra a lista de preferidos em milhares de perfis do orkut. Dias atrás à procura de levar alguma coisa boa para casa encontrei o dito cujo por preço extremamente acessível, na certa os fãs enlouquecidos não o encontraram. Comprei-o, afinal de fato estava curioso para saber do que se tratava, continuo sem saber, não se trata de nada. Para não esculhambá-lo de todo, digo que ele tem lá sim seus pontos positivos, pois privilegia o roteiro e tem o intuito de contar um história, o que nesses tempos de Harry Potter e Homem Aranha é raro. Mas como contam o próprio diretor e atores o objetivo era falar de amor para adolescentes, entre adolescentes, e tudo de uma maneira diferente. Aí que o inimigo aparece, o filme é clichê, piegas ao cubo! O menininho rebelde da escola que se regenera por amor à meninha boazinha, filhinha do pastor da cidade. Em quantos filmes, novelas, livroides, já não se viu coisa parecida? O grande ápice da trama é quando o rapaz lê para a mocinha a passagem bíblica que fala de amor: “O amor tudo espera, tudo crê, tudo suporta...”. Quem é que já não está farto de ouvir essa melosidade toda? O filme não apresenta novidade alguma. É típico do namorado cafajeste que quer impressionar a namoradinha derretida que cobra carinho. “Olha aqui amor, o filme que eu trouxe pra gente...”. Com certeza algum um outro retardado já havia lhes recomendado previamente. Mas não merece ir para a forca quem assisti-lo, basta ver e regurgitar tudo imediatamente para não cair na tentação de cometer blasfêmias como a que está presente na sinopse da contracapa: “Romeu e Julieta do século 21”. Coitado do Shakespeare deve está se contorcendo no caixão nesse momento.
PS Ah, mas para salvar um pouquinho, os protagonistas são excelentes atores, só que depois desse bombardeio todo, nem é bom citar seus nomes tampouco falar de suas qualidades.


t.c.s.













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