terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Sítio

Quando falei outro dia que no Brasil nunca tivemos um autor como Twain ou um Stevenson, cometi um erro, na verdade foi um esquecimento, que sem querer me obriga a falar dele individualmente, é o direito de resposta. O Brasil teve sim um grande autor que podia ser lido por adultos e crianças indistintamente, ele era Monteiro Lobato, o estopim do modernismo, ele que abriu caminho para todos os novos, ele que ferinamente destroçou Anita Malfatti e assim foi atacado por todos os lados, ele que era moderno antes de sabermos o que é ser moderno, que falava em petróleo como se fosse um visionário. Ele que juntou estórias na sua grande obra - O Sítio do Pica Pau Amarelo -, que nos deu uma cara mais de brasileiros, e nos fez ficar sentados na cozinha da tia Nastácia ouvindo dona Benta ler seus livros, fazer seus serões. Criou um universo onde boneca falava e mais que isso falava coisas que impressionavam, deu voz para um sabugo de milho, e deu-lhe até título de nobre, o Visconde.

Eu não o comparo com os grandes autores estrangeiros, mesmo para ele a luta é impossível de ser ganha, mas foi ele, não o inglês ou o americano quem falou das nossas coisas, quem nos levou da roça para enfrentar o Minotauro, lutar com Dom Quixote contra moinhos de ventos, caçar onças com Pedrinho, seguir de perto as Reinações de Narizinho. Ele não inscreveu nenhum livro na história da literatura mundial, mas também nenhum brasileiro o fez, nós é que somos abertos para experiências e assim gostamos de gregos e troianos, eles não, são fechados, não entendem nossos sentimentos, o que nos é caro e prazeroso. Esse costureiro de tradições, estudou diversas culturas para mostrar o quanto a nossa é rica, o conto de fadas, as lendas, mitos, as fábulas. Suas estórias eram impregnadas de todas as outras estórias, e mesmo assim ela ficava com a nossa face. Ele que já havia criado o Jeca Tatu, o primeiro herói genuinamente nacional, que hoje vive junto aos nossos grandes heróis literários e mais que isso junto às nossas melhores lembranças, juntando-se a Brás Cubas, Macunaína, Policarpo Quaresma, Macabea, Capitão Rodrigo, Fabiano, Riobaldo...ele merece continuar sendo lido e admirado.

Monteiro Lobato...registrado!


Foto: Monteiro Lobato na redação da Revista do Brasil, início dos anos 20.


s.o.

2 comentários:

Unknown disse...

s.o, vc e esse seu complexo de inferioridade, querendo comparar tudo o que é nacional com o internacional. Interessante que nas suas concepções estamos sempre devendo alguma coisa.

Professor disse...

Na verdade não considero complexo de inferioridade, acho que nossa literatura, de uma maneira geral, é tão boa quanto muita coisa produzida lá fora, mas no caso desse 'sub-gênero' é incrível o tanto que ficamos devendo sim, pegue a Droga da Obediência e por exemplo algum conto infantil do Oscar Wilde, ou Livro da Selva do Kipling, sim meu caro estamos a quilômetros de distância deles. É o que eu acho.