segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pequena tragédia caseira



Passei uma tarde entre flores comestíveis, sorvi do néctar que me foi oferecido. Refestelei-me, sorri, demonstrei muita virtude em não ter pudor. A sorte me sorriu algumas vezes e eu corrompido pela desmedida acreditei-me infalível. Sorrateiramente, o cansaço chegou só para mim. Evadi-me para um lugar seguro. Até pensei, no silêncio da minha fuga, em voltar e resistir bravamente à onda que tudo carregava. Mas meu erro fatal já havia sido cometido e a punição estava a caminho. Voava ligeiro nas asas da companheira, que furiosa não aceitou a interrupção do bailado da abelha em volta da flor. Taças quebradas, pratos quebrados, sussurros nervosos, uma energia que emergia incontrolável. Uma dor de séculos renascia. A da fêmea desprezada, antes da sua satisfação se completar. Eis o meu destino cego, sempre recomeçar até a certeza de que a catarse se instalou e o êxtase quebrou o inquebrantável (des)equilíbrio dela.




s.e.s.

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