sábado, 8 de setembro de 2007

Tempo...


Pensamos que temos todo o tempo do mundo, Renato Russo achava que sim, "temos todo o tempo do mundo", na verdade mal contamos o nosso tempo, miúdo, mínimo. Se estamos esperando algo, o tempo não passa, quando temos um compromisso prazeroso, ele escoa. Precisando fazer fisioterapia com aquele gelo durante 20 minutos, ele é estático, mas quando temos hora marcada, nada pára os ponteiros. Talvez sejamos regidos por uma lei como a de Murphy, quem sabe seja só que somos bem impressionáveis e quando perdemos algo por falta de tempo nos queixamos da falta de. Mas quando demora para chegar o que nossa ansiedade quase não controla, reclamamos dele também.

Em um feriado, cheio de coisas por fazer, o tempo é inimigo, se, ao contrário, a modorra te invade, já no sábado esse prolongamento dos dias vai te dar raiva. Modos de ver, de sentir, que no fim, no fim verdadeiro, ali com você dentro do caixão baixando à sua cova rasa, não vão fazer a menor diferença. Corre-se muito, aproveita-se pouco ou faz-se pouco, esbalda-se um tanto. O caminho do meio é o melhor, diria o Dalai Lama, para o Schumacher não fazia o menor sentido marcar passo, para a tartaruga, a impresão que passa, é que ela deve achar que sempre vai ganhar da lebre, para o homem comum depende do tamanho do fogo que lhe queima as necessidades.

Uma rede é um bom símbolo para o baiano, a praia é o motivo da alegria do carioca, o chimarrão queimando a garganta tomado numa roda sem pressa de gaúchos é a própria expressão de sua vitória contra o tempo. No trânsito alguns correm, outros enrolam a falta de perícia, muitos ficam pelo caminho nessa briga de opostos. Uma criança quase não pára, é a hiperatividade, um velho se arrasta, já correu o seu tanto. No hospital todos têm pressa, para serem atendidos, comerem a comida horrível, voltarem para casa. Quem necessita de sangue tem urgência, aquele que não doa por medo de 'engrossar o sangue', não tem pressa de ser solidário nem de repetir clichês absorvidos na inutilidade da sua vida.

Quantos paradoxos na luta contra o tempo, se conseguimos, por instantes parar (a gente, não o tempo), nos sentimos na Matrix, pessoas sem alma, correndo atrás do que não perderam, lutando pelo pão de cada dia que já não dão mais hoje e sim só pode ser arrancado com sangue, suor e lágrimas. Corre-se, corre-se, pouco se aproveita, e acreditamos na felicidade como uma cota diária. Hoje eu nem lembro se já sorri, nem para quantos dei bom dia, nem se olhei nos olhos de alguém, ontem não lembro se almocei, amanhã vem vindo para me abraçar e como diz Calvino no seu Cavaleiro Inexistente, “De narradora no passado, aqui está, ó futuro, saltei na sela de seu cavalo. Quais estandartes novos você me traz dos mastros das torres de cidades ainda não fundadas? Quais fumaças de devastações dos castelos e dos jardins que amava? Quais imprevistas idades de ouro prepara, você, malgovernado, você, precursor de tesouros que custam muito caro, meu reino a ser conquistado, futuro...”

s.o.

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