segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Educação para adultos...

"Sentado à minha secretária, que havia sido empurrada para um canto e estava atravancada de frascos de remédio, Joe entregava-se conscienciosamente a seu trabalho. Começou por escolher uma pena no estojo de penas, que manejou como se fosse uma caixa de ferramentas pesadas. Depois arregaçou as mangas como se pretendesse trabalhar com uma alavanca ou malho. Antes de principiar a carta, pôs-se em posição, isto é, apoiou-se fi isto é, apoiou-se fiotovelo esquerdo e levou a perna direita para trás. Começou a escrever alongando tanto e tão lentamente as pernas das letras, que se poderia pensar que lhes dava o comprimento de seis pés. Ao fazer os traços finos e ascendentes, a pena arranhava horrivelmente o papel. Joe não fazia a menor idéia do lugar onde se achava o tinteiro e molhava a pena no espaço, parecendo muito satisfeito do resultado. Meu velho amigo cometeu alguns erros de ortografia, mas em suma, saiu-se muito bem. Depois que apôs sua assinatura à carta e limpou nos cabelos um borrão caído na parte inferior do papel, pairou de certo modo sobre a mesa para contemplar de pontos de vista diferentes sua obra. E contemplou-a com satisfação imensa." - Grandes Esperanças, Dickens.


Para o homem deixar de ser analfabeto é uma glória, muitos ainda o são, e muitos conseguem deixar de ser, mas e depois que os alunos conseguem ordenar as letras numa fila indiana de significados, quem toma conta dos novos leitores? Textos, jornais, propagandas, e-mails, santinhos com nome e número de candidatos, tanto para se ler. Tenho minhas dúvidas quanto aos aprendizes, quantas pessoas que aprendem a ler no tempo certo, seguindo o curso natural das coisas, e passam a vida sem nunca conseguir decifrar um Machado de Assis, um Graciliano Ramos um Guimarães Rosa. E esses novos leitores são contabilizados e abandonados nas suas secções eleitorais e ponto final.


s.o.

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