domingo, 21 de outubro de 2007

Olgas


Durante toda a vida sempre fui acometido por uma terrível aversão a celulares, tempos desses atirei ao chão o único que tive, já nos momentos finais de sua vida. Poucas vezes tomei decisão tão sensata. Tratava-se de um aparelho Siemens. Recém findada a leitura de Olga, nos últimos capítulos descobri que esta empresa é mais uma construída à custa da falta de escrúpulos de mais uns dos infinitos calhordas que rodeiam este país e toda a humanidade. Muito simples instalar uma indústria dentro de um campo de concentração nazista e fazer com que a mão-de-obra escrava de mulheres sem nenhum direito à escolha produza incansavelmente com o intuito de suprir todas as carências do poder bélico de Hitler.

Era isso que a Siemens fazia, não só ela. Mercedes Bens, BMW, Volkswagen e tantos outros impérios, se alicerçaram nesse crime horrendo para garantir todo o sucesso empresarial. Hitler não era obcecado apenas pela morte, ganhar dinheiro também fazia parte dos seus planos é obvio, senão não havia sentido algum. Antes de fazer jorrar o sangue de suas vítimas, ou roubar-lhes o ar com gases venenosos, elas precisam dar lucros, muitos lucros. Hitler recebia uma quantia considerável de empresas com interesses escusos, e em troca mulheres eram cedidas para trabalharem até morrer. Esse é só um dos fatos medonhos, relatados por Fernando Morais em seu magnífico livro.

Outras atrocidades, também são capazes de fazer qualquer brasileiro se sentir um verme. Getúlio Vargas não passa de um protótipo de Hitler, dando aval para as mais atrozes torturas. Filinto Müller hoje ostenta nome de ruas, numa certa capital dá nome a avenida onde está localizado o Centro de Controle de Zoonozes da cidade e na frente a Polícia Federal, quando no passado oculto do Brasil, era um pau-mandado de Getúlio, como capitão de polícia, massacrava homens e mulheres para que contassem todos os segredos que pudessem comprometer os interesses de um Estado autoritário.

Trabalhar para os pobres sempre foi um bom negócio, a figura de Vargas é sempre associada a do homem que criou a carteira de trabalho, o décimo terceiro, as férias. Bem se vê que até hoje a política pão e circo continua dando bons frutos. Mas por que será que ninguém comenta que o pai-dos-pobres deu ordem para mandar para a Alemanha de Hitler uma judia grávida? Certamente se ele não tivesse se suicidado, muita gente gostaria de ter feito o serviço.

Olga Benario Prestes nunca uma brasileira foi tão brasileira quanto essa estrangeira. Ao lado de Luis Carlos Prestes abraçou todas as causas nacionais, toda a utopia de um comunismo que continuou a ter seus ideais defendidos futuramente pelas esquerdas da vida. Agora já não, o medo já venceu a esperança faz tempo, até seu cavalheiro morreu.

É sempre infeliz querer comparar filme e livro. O recomendável é desfrutar o há de melhor em ambos. Para os milhões que já viram Olga nas telas e telinhas, se forem ler o livro agora é simplesmente impossível não imaginar nossa heroína na pele da inigualável interpretação de Camila Morgado, o mesmo vale para o Caco Ciocler, Fernanda Montenegro, Luís Melo e todos os outros grandes atores que fazem história pular das páginas do livro.

Porém é hipócrita negar que versão cinematográfica com ar holywoodiano não passa de uma síntese da história, muito bem construída sim. Mas certo temor sempre soa, é sempre um pecado omitir lances tão nefrálgicos. As caminhadas a pé que Prestes fez pelo Brasil, à procura de enxergar todas as mazelas do país, não estão presentes. E por que será que a Globo Filmes teve receios em atacar as empresonas que um dia tiveram o pé no Nazismo? Como já disse, estas comparações são sempre infelizes.

t.c.s.

2 comentários:

Professor disse...

Nada como um livro depois do outro, não?

Professor disse...

Somos todos livros.