sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Tudo é possível

Filmes bons não envelhecem, ainda bem, temos uma imensidão de possíveis alternativas, velhas chances guardadas, algumas já vertidas para o formato DVD, outras ainda no bom e velho VHS e assim podemos num momento ou outro sentar e rever pérolas. Ontem eu me reencontrei com Kielóvski, tenho por ele uma admiração gigantesca, só abalada pela sua ida para o andar superior sem minha autorização. A Igualdade é Branca foi o filme. Esse é o mais fraco da trilogia Trois Couleours, mesmo assim superior a uma grande maioria do que se filme mundo afora ainda hoje em dia. É um filme belíssimo, da trilogia o Vermelho é o meu xodó. É a queda do homem, dá até para entender a frase popular "para baixo todo santo ajuda", é uma longa queda. Concluída numa chegada triunfal do nosso herói na Polônia dentro de uma mala, que ainda consegue ser roubada.

Karol Karol (o homem da mala) tem um problema, eu sou solidário com ele, um ser humano normal deve levar um tempo bem grande para se acostumar com a idéia de ser marido de alguém tão linda, ela que se torna a causadora de todos os males. Ele não consegue ter uma ereção, estamos no período antes da pílula azul, ou seja um fracasso total. Pecado que ele paga numa seqüência inumerável de castigos. Aqui uma pausa, o sexo é um mistério, dentro dos relacionamentos se for ele o mais importante tudo está fadado a ficar capenga, sexo de qualidade não pode faltar, mas também não pode deixar de ter companheirismo, amizade, e se necessário paciência. Se existir amor, um problema como esse pode ser enfrentado junto e até com bom humor. Mas ela, Dominique (Julie Delpy lindíssima como sempre) já havia perdido completamente a paciência.

Voltando ao filme, além da queda, surge o fantasma da depressão, um amigo que quer morrer (Mikolaj), e um homem que quer se vingar (Karol), desse encontro uma das cenas mais belas do cinema, a quase morte, a ressurreição e o mundo todo branco. Nos filmes desse polonês surgem sempre enquadramentos maravilhosos, roteiros elípticos e música de qualidade, aqui tudo isso está presente. O filme se perde um pouco depois na hora da ascensão de Karol que se torna um empresário milionário e que assim pode enfim ter sua vingança concretizada, a Igualdade do nome. Mas ele na verdade nunca teve ódio dela, e sim uma vontade de tê-la de novo ao seu lado. Para recuperar seu amor ele morre mais uma vez para ela, as outras vezes foram quando ele não conseguia nem triscar uma 'pétit mort' junto com ela, uma outra quando se separaram. Kielóvski reconta, de uma maneira diversa, a trajetória do herói mitológico, a queda, a luta, a morte, a redenção, tendo como pano de fundo uma Europa em vias de se tornar essa que hoje conhecemos.



s.o.

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