sábado, 17 de novembro de 2007

Carentes online...


Quem acompanha diariamente sua caixa de e-mail recebe cansavelmente todos os dias correntes e mais correntes. Orações, declarações de amor e amizade, alertas para as catástrofes mundiais, precauções para supostos vírus, piadas, críticas políticas, relatos de criancinhas terrivelmente adoentadas, poesias baratas, enfim. O que será tudo isso? Futilidade? Pieguice? Não! A internet se tornou um lugar de fracos e oprimidos. Num mundo sem ouvintes para as aflições alheias, a máquina se tornou a única pessoa aberta, disposta a diálogos. Nada mais justo que seja depositado nos PowerPoint’s da vida tudo aquilo que aflige a sentimentalidade dos mais solitários.
Não se trata de pequenez literária. De pessoas desocupadas que vivem a querer infernizar, lotando as caixas de e-mail. Trata-se de pessoas frágeis, imensamente sensíveis que gastam o tempo fabricando slides e/ou enviando-os a torto e direito. Os frios se irritam com tal fato e saem deletando tudo, para eles isto uma atitude sensata e realmente é, mas só porque estes encontram outras áureas dentro da própria internet. Definitivamente a internet não é um lugar para os felizes, é um lugar para os frustrados, para os tristes, para os querem ser ouvidos, para os querem ouvir. Quem exibe sorrisos de orelha a orelha jamais passa horas ininterruptas na frente do computador, talvez estas tenham presenças físicas que lhes compensem as horas estáticas.
Empestam-se os blogs, os diários públicos, as biografias incompletas. Quem taxa as correntes de piegas, talvez faça uma pieguice ainda maior. Na net cada um se defende como pode. Nas salas de bate-papo sonhadores reais encontram esposas e maridos. Os mais desavisados inconseqüentes recebem roubos, estupros e assassinatos. Os mais dramáticos se valem de companhias mais próximas, as do MSN. Neste algumas pessoas depositam um sentimento que simplesmente não existe. Acham que todos estão dispostos ao ouvi-las e realmente deveriam estar. Afinal essa não é também mais uma sala de bate-papo? O medonho status de ocupado já afugenta o pobre caçador de diálogos. “Estou saindo”, “Estou trabalhando”, “Estou indo dormir”, (claro que tudo isso foi traduzido do bom internetês),depois de alguns minutos de conversa, são sempre estas as respostas que se lê daquele que se dizia on-line. Entretanto na maioria das vezes isso é mentira, pessoas ocupadas o último lugar que procuram é o MSN, e se vão até ele é porque têm alguma dor, mas não querem se contaminar com as dores alheias, para fugir desse perigo, checam apenas os e-mails e saem correndo com os dedos apressados no teclado e mouse. Do outro lado alguém com a coluna torta na cadeira e a visão embaçada pela tela.
t.c.s.

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