sexta-feira, 6 de julho de 2007

Percursos

Há quem ainda sonhe com os dez milhões de emprego prometidos pelo presidente molusco, mas o que se vê é uma infinidade de desesperados descrentes da vida.

Dedos ansiosos percorrem os classificados de jornais porcarias, em busca de alguma novidade empregatícia, ou para ver se o nome consta na lista de anúncios conforme o combinado com o suposto veículo de imprensa. Na sucessão de entrevistas, profissionais exibem seus currículos como uma prostituta exibe o corpo em esquinas movimentadas.

Os mais corajosos metem o carão na tv, em desprogramas que exploram esses seres como vermes sobre o cadáver. Figuras caricatas. Os pedintes são sempre os mesmos. “Serviços gerais”, até hoje não sei o que realmente fazem esses sujeitos. No olho do furacão há ainda quem diga para o apavorado homem que tem cinco filhos e uma mulher grávida, que ele deveria ter estudado um pouco mais, mas talvez isso seja um mal necessário.

Instituições pilantrópicas usurpam do vigor de jovens adolescentes que anseiam enlouquecidamente pelo primeiro emprego e lhes proporcionam uma vida utópica com o velho argumento de que como trabalhadores estão livres da criminalidade sem levar em conta que para trabalhar esses jovens vão ter que enfrentar o inferno da escola pública noturna e não são nada menos que uma mão de obra barata.

Para os competentes gaiatos que se disfarçam de trabalhadores, tem surdos que ouvem, cegos que escutam, deficientes que andam e procuram sensibilizar a todos com falsos obstáculos de saúde.

Para quem não se encaixa em nenhuma dessas alternativas, resta ainda talvez a atitude mais sensata e com retorno mais demorado. Os concursos.

O discurso já é velho, escolas interessadas no dinheiro de quem ganhar conhecimento em cima da hora. Uma biblioteca de apostilas à venda. Filas e mais filas em dias de inscrição. Angústia para saber o local da prova.

Dia de prova o cenário é sempre o mesmo. Tem sempre um que chega bem mais cedo que todo mundo e fica lá largado na calçada, esperando que o portão seja aberto, como se com isso já conseguisse eliminar 50% dos seus concorrentes. Os relativamente retardatários vão chegando aos poucos, de carona, de ônibus, de moto-táxi, enfim a maioria faz o possível para chegar a tempo. Mas outros adoram acordar tarde nesse dias, para depois chorar desesperadamente nos braços do fiscal. Outros com motivos justos, ônibus que não chegam ao destino, carta que indica o local errado da prova, mas nada serve como desculpa para amaciar o coração do fiscal.

Já dentro da sala é tudo reprise. A velha formalidade. Pessoas que não se olham, é uma forma de se odiar respeitosamente. O relógio de giz no quadro atormenta a todos a cada meia hora. As malditas bolinhas do gabarito que precisam estar sempre completamente redondinhas, sempre se responde pelo menos uma questão achando que está respondendo outra, uns mais azarados fazem isso com toda a prova. Há quem goste de terminar primeiro para esnobar os demais, mesmo que esteja entregando a prova em branco, embora precise sempre esperas as infelizes mínimas duas horas. Há quem fique no meio termo. Há até quem prefira ficar com suas bolachas e chocolates. Há aqueles de calma exagerada que sempre são os três últimos e ajudam a entregar a prova.

Depois de findada essa fase, é que o desespero realmente começa. Conferência de gabaritos. Resultados que parecem nunca sair e quando saem podem ser decepcionantes.

Que tal um novo edital?


t.c.s.

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