segunda-feira, 30 de abril de 2012

5 discos da minha vida

Até os vinte anos, nenhum disco ficou na minha memória, tá, ficou, mas não formaram meu gosto musical, só mexem de quando em quando com minha memória afetiva. Morava na Nhecolândia, terra inóspita, imperava a música sertaneja. Se fosse escolher teria que ser algum disco do Milionário e José Rico; Tonico e Tinoco; mas não tinha discos deles em casa, se ouvia tudo pelo rádio. Depois nos mudamos pra Corumbá, lembro dos primeiros vinis que compraram, eram trilhas de novelas, acho que compravam quase todas. Tinha lá também o disco mais vendido do mundo na época, aquela trilha sonora dos Bee Gees para o filme do John Travolta; agora pensando nisso, me pergunto: como era possível que pessoas vindas da roça ouvissem Bee Gees? O improvável acontecia. Sabe outro disco que tinha? O primeiro disco solo de Freddie Mercury. Queen? Quem era Queen? Outra coisa que ouvíamos era Roberta Miranda e Sula Miranda; nos botequins mais trashs da cidade elas eram a senha pra que os bebuns de plantão pagassem mais cervejas quando a colocavam pra tocar. Mas tudo mudou. Na verdade eu me mudei, vim pra capital, que de diferente da roça e da cidade pequena não tinha nada, até hoje não tem: vide Luan Santana, Michel Teló. Aqui minha vida seria ouvir discos do Zé Correia se não surgisse na minha vida, meu primo. Também vindo do interior do estado, só que do outro lado. Na sua casa, minhas primeiras audições de música, só que agora sem ser só música ambiente, e sim, com orientação. Alguns discos da minha vida vêm dessa época, os outros derivaram do gosto que passei a ter, depois das tardes que nos juntávamos no apartamento do meu primo, uns cinco caras dentro de um quarto mínimo, e no três em um, rolando grandes discos:


Pink Floyd – The Wall: ninguém tinha um The Wall como o do meu primo. A capa branca, o muro, era assinada por todos que iam à casa dele e ouviam o disco. Quando eu cheguei já quase não tinha espaço pra assinar. Foi aquele disco o primeiro que ouvi lá? Acho que não, mas ouvir The Wall era uma celebração. Lembro de uma festa que do nada todos estávamos dançando Another Brick the Wall, nos jogando contra as paredes, tentando derrubar o salão de festas do condomínio, que de verdade nem nos prendiam, devia ser só fúria adolescente. Hoje, já faz tempo que não ouço The Wall, até tenho ele em mp3, só que as músicas não combinam com meu estado de espírito atual, mas passei o bastão para minhas filhas e elas aprenderam a escutar, a ver o filme do Alan Parker.

Led Zeppelin – II: se tinha um disco que meu primo curtia muito, esse era o dois do Led. Ele nunca cansava de explicar os detalhes da guitarra do Page, de repetir o quanto Bonham era o maior baterista do mundo, o quanto baixo do Jones era emblemático, e como Plant era o melhor vocalista. Ele teria sido um grande jornalista musical, se não tivesse se tornado carismático. Whole Lotta Love era o hit naquele quarto, explicado à exaustão, depois de um tempo, em que já conseguia definir o que era baixo, sacar o trabalho da guitarra do Page, aí ficávamos lá, curtindo o som.

U2 – The Unforgettable Fire: de todos os discos do U2, lá tinha esse. E foi com esse que todos fomos iniciados no império U2. Não era um disco fácil, tinha o hit: Pride; mas era um disco introspectivo e isso era motivo de contemplação por lá. Tudo o que U2 esgotaria depois estava ali em embrião, um disco que salvou a carreira do U2, dali eles iniciariam o seu domínio sobre o mundo, mas então não, era um disco lindo, pra se curtir apenas.

Led Zeppelin – I: bom, teve muitos outros discos na casa do meu primo, mas teve a hora que meu gosto estava consolidado. Se tinha um disco que sempre faltou lá, era esse, o primeiro do Led; hoje seria fácil, um download e pronto. Naquele tempo não. Mas eu vi a luz. Minha primeira filha tinha nascido, estava meio doido, queria comemorar fumando charutos, mas sem querer me vi nos corredores das lojas Americanas e na seção de discos, eu encontrei a mais ou menos, em valores de hoje, R$ 5,00, o Led I. Comprei vários, presenteei meu primo e alguns amigos, e aquele disco perfeito, é até hoje trilha sonora inesquecível.

Faith no More – The Real Thing: agora, pai de família, um moleque, imberbe, mas já pai. Essa fita cassete original assombrou minha casa sem móveis, era só três em um na sala, e ouvia deitado no chão, ou sentado, encostado na parede. O bebê brincava por ali, quietinha, e para ninguém incomodá-la na hora do soninho, dormia ao som de Epic, From out Nowhere, delícia.

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