sábado, 7 de junho de 2008

Grandes Esperanças - Resumo da ópera


Grandes Esperanças é o segundo dos romances de Dickens em que o herói conta sua própria história, e parece uma tentativa de preencher o que não foi dito em David Copperfield. Conta a história de Philip Pirrip, ou só Pip, como ele mesmo se contenta em chamar. Órfão de pai e mãe, mora com a irmã que é casada com Joe Gargery, o ferreiro. Pip tem por acaso a oportunidade de se tornar fidalgo, e se transforma num pequeno e desprezível esnobe. Começa com o pequeno Pip visitando o túmulo de seus pais e irmãos, mas essa bucólica cena, pelas mãos de Dickens, já é transtornada por um fugitivo d galé-prisão, que ataca violentamente o menino e, com ameaças, o obriga a jurar que voltará no outro dia com comida e uma serra. Nesse pequeno capítulo já percebemos toda força da narrativa dickensiana.

Passado esse medo inicial, que o atormentará por toda sua vida, Pip é mandado por sua irmã e seu tio Pumblechook, para visitas periódicas à Srta. Hawisham, velha e rica que foi abandonada no altar e por conta desse fato parece que sua vida parou no tempo e na determinação de, através de sua sobrinha Estelle, se vingar de todos homens. É nesse ambiente que Pip se apaixona por Estelle, é nesse lugar que tecerá algumas de suas “esperanças”. O relacionamento da Srta. Hawisham e de Estelle é como o de uma professora e uma aluna aplicada e Pip é um mero brinquedo nas mãos das duas. Sem a malícia necessária em tal situação, suas idas nessa casa, durante um bom período, não parece mudar em nada sua situação, temos um Pip puro, ingênuo e bom. Quando alcança a idade de 14 anos, tem que começar a trabalhar como aprendiz na oficina de Joe Gargery, o faz, mas não é com muito prazer. Até que sua sorte muda e recebe misteriosamente uma renda mensal de um doador desconhecido, que Pip crê ser a Srta. Hawisham, em um dos seus surtos esperançosos, sendo, acredita ele também, tudo uma preparação para que futuramente possa se casar com Estelle. Mas Dickens não entrega assim de mão beijada sua criação, seus heróis tem que passar pelo purgatório para merecerem o céu.

Pip deve sua renda misteriosa ao condenado com quem, na sua infância, fizera “amizade” nos charcos. O próprio Abel Magwitch (o forçado agora chamado de Provis) era filho de um pobre funileiro que, “desde quando se entendeu por gente roubava nabos para viver”. Mais tarde ele fora explorado por um patife da nobreza (por acaso o mesmo que abandonou Srta. Havisham no altar) que se tornara escroque e que deixou Magwitch ser surrado quando ambos caíram nas mãos da lei. O pobre plebeu ficara impressionado com as vantagens que a condição social de seu companheiro - fora mandado para uma escola pública – lhe conferira aos olhos do tribunal. E, quando mais tarde Magwitch prosperou em Nova Gales (onde se encontrava banido pela lei inglesa), decidiu fazer de Pip um fidalgo. Desse modo Pip se viu numa situação em que o dinheiro que o prendia a Magwitch se não o associava a uma pobreza e ignorância mais abjetas do que aquela da qual escapara, o colocara sob as ordens de um indivíduo que representava para ele a escória do submundo, um homem com um preço sobre sua cabeça. Não apenas isso, mas a orgulhosa lady – que conheceu Pip na sua primeira fase e o desprezava tendo-o em conta de um simples menino de aldeia – é apresentada como sendo a filha de Magwitch e de uma mulher que tinha sido julgada por assassinato e que ora está empregada na condição humilde de governanta na casa do advogado que a defendeu.

O símbolo aqui são as “grandes esperanças” que tanto Pip como Estela alimentam: eles são a imagem do otimismo vitoriano do meio do século. Estela e Pip acreditaram ambos que poderiam contar com uma rica patroa, a herdeira de uma fábrica de cerveja então parada, para lhes assegurar contra a vulgaridade e as privações. Mas a patroa desaparece como um fantasma e eles ficam com os costumes de lazer da classe, sem as rendas suficientes para mantê-los. Eles tinham a princípio de se perderem um do outro também, Estela devia se casar por dinheiro com um gentil-homem do interior e Pip nunca mais a veria senão por breve instante em Londres. Eis a última esperança de Pip, que acompanhamos com interesse, pois vemos ele passar por todo um ciclo psicológico. No início, ele é simpático, em seguida, por um processo mais ou menos natural, ele se torna antipático, tornando-se depois de novo simpático. Ali os efeitos tanto da pobreza como da riqueza são vistos de dentro de uma só pessoa.

Nesse processo de transformação pelo qual passa acompanhamos então sua vida numa Londres próspera, e dentro dessa sociedade Pip alcança o céu e o inferno. Sempre suas “grandes esperanças” são demolidas, Estella se casa com uma pessoa simples, porém, desprezível, somente pelo dinheiro; Srta. Havisham se mata e não é sua benfeitora; Joe se casa com Biddy, professora que era apaixonada por Pip, antes dele sair da sua cidadezinha; Magwitch, o forçado se apresenta como seu protetor o que lhe causa extremo horror e vergonha. É nesse processo de perder, ganhar, viver num patamar bem maior que poderia, enfrentar seu passado, tanto diante da Srta. Havisham, Estelle ou Magwich que podemos perceber o amadurecimento de Pip, sua transformação se dá de maneira completa através do sofrimento.



s.o.

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

Bons textos aqui, como sempre.

Abraços.