sábado, 1 de março de 2008

Juno


O assunto é sério, realmente sério. No nosso país ele assume ares de problema de saúde pública. Adolescentes grávidas é o que há por aqui, nesse ponto o filme acerta em cheio, o sexo é uma realidade entre os adolescentes e cada vez mais precocemente essa barreira antes quase intransponível vai se tornando banal. Corpos ainda não completamente formados. Psicologicamente longe da maturidade necessária para se criar um filho; criança que chega mudando tudo na vida da menina, o corpo, as sensações tão diversas como deixar de ser filha para se tornar responsável por uma vida. Como encontrar tempo depois para continuar a curtir as delícias da adolescência? Onde se localizar no mundo depois de ter um filho aos quatorze, quinze anos? Respostas que o filme não dá.

O roteiro do filme, premiado merecidamente com o Oscar, é sensacional, os diálogos são atuais, leves, irônicos, sarcásticos, a realidade é que foi adaptada ao paladar americano de ver o mundo. Temos, nós que conhecemos as dificuldades e surpresas que sentimos ao encontrar uma mãe-filha, no máximo que ver o filme como um entretenimento, de primeira qualidade, mas completamente longe da nossa dura verdade. Quantas jovens não são abandonadas pela família quando um fato desse ocorre? Pais intolerantes, revoltados com a "perda da honra", seja lá o que isso for, existem aos montes ainda aqui. Claro que também temos famílias que aceitam o desafio, enfrentam o fato com galhardia e aprumo, mas mesmo assim a vida de todos está irremediavelmente mudada. É questão social, isso é muito claro, meninas pobres engravidam muito mais, falta de se enfrentar esse problema de frente, conscientizar pais, mães, tocar nessa ferida já na escola, demonstrar o quanto um filho quando ainda se é tão criança não beneficia em nada nem a mãe-nova nem o novo-filho.

Mas o entretenimente é garantido, na sessão que fui notei muitos adolescentes, excitados antes, compenetrados durante, felizes ao terminar. Será que perceberam mesmo as nuances do filme? Espero que sim, a visão da Ellen Page grávida, andando como se carregasse na barriga não um filho, mas todo o peso do mundo fala muito mais que as ações tomadas por ela na ficção. Como é cativante os detalhes, como o telefone hambúrguer, a surpresa de todos na escola, a trilha sonora indie total, belezas da telona. Mas ser mãe jovem não é só fazer o sexo em si, é também depois vestir ares de fortaleza, força essa que sozinha uma adolescente ainda não tem, entra em ação a importância da família, do meio em que a pessoa convive. No filme tudo se resolve com o bom humor do texto, na vida real tudo está longe de ser assim. O filme então é excelente opção para todo mundo, até mesmo uma chave para muitos pais e mães penetrarem no hermético mundo dessas jovens esfinges modernas que nos rodeiam, ou ao menos para que pais e mães tirem dos olhos a venda da hipocrisia que vestem quando o assunto em questão são atitudes dos seus filhos.


s.o.

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