terça-feira, 28 de agosto de 2007

Adeus, mas não trema nunca mais.

Aqui estou, mas não se importe com as minhas já inconseqüentes lamúrias.

Elas não serão mais freqüentes.

E quem sou eu para me queixar de mais essa eqüidade brasileira?

Essa nossa farta inteligência eqüina?

É só mais um seqüestro de saber feito pelos homens do poder.

São seqüências de desatinos que assistimos calados.

De nada vale as palavras sobre as quais já estive, feito sagüi sobre as árvores.

As opiniões se dividem, não são eqüiláteras, eqüitativas.

Nem me proponho a causar tais ambigüidades.

Deixe que sobreponha-se o nosso lado multilíngüe.

Assisto com certa tranqüilidade meu fim.

Deixo aflorar a minha obliqüidade.

Embora saiba que logo, logo vai me surgir um alcagüete.

Sei que meu fim também não destruirá a minha ubiqüidade.

Perdoe essa minha provável grandiloqüência.

Por cinqüenta mil vezes tentei deixar de ser assim.

Só porque sempre tentei fazer um enxágüe nas intenções.

Dar um ar de pureza, menos malícia quando se pronunciava, por exemplo, lingüiça.

Lá eu estava, fazendo algo inexeqüível.

Dando um ar puritano como dois olhos infantis, ingênuos, mesmo assim argüidores.

Deixemos de redargüir, já é tarde.

Deixemos de lado discussões gramaticais ou lingüísticas.

Meu desejo de viver corre ainda em vitalidade sangüínea

Porém já faço parte da antigüidade.

Meu desejo escorre feito liqüido pela legislação.

Destarte tenho forças para agüentar tudo calado.

Apazigüemos.

t.c.s

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Meus dias com Pip


Se tem um autor que me faz ficar abismado a cada livro que leio dele é Dickens, enquanto vou egoísticamente completando o Great Expectations, sinto que o mundo à minha volta pára. A cada palavra um assomo de prazer, não escrevem mais como ele...que pena...e as esperanças de Pip que começam e acabam e começam e acabam são como as nossas esperanças, queria que minha vida fosse escrita por Dickens, assim eu poderia ter mais fé na espera. E meus dias mudam conforme o estado de espírito de Pip, e ontem quando eu cheguei nesse trecho em que mais uma vez as esperanças de Pip foram por água abaixo, eu fiquei entre melancólico e triste e com certeza andei de Manor House até Londres com ele, pois depois dormi pesadamente e até tive caimbras...e ainda tem gente que defende os escritos de um Paulo Coelho...

"Engana-se, Estelle! Faz parte da minha vida desde que a conheci, faz parte de mim mesmo! Eu a vi em cada linha que li depois da primeira vez que aqui vim, sendo ainda um pobre menino grosseiro e vulgar, um menino cujo coração feriu. Desde então esteve em todos os meus sonhos de futuro. No rio, nas velas dos navios, nos charcos, nas nuvens, na luz, nas sombras, no vento, no mar, nos matos e nas ruas foi a personificação de todas as fantasias graciosas que meu espírito concebeu. As pedras com que se construíram os mais sólidos edíficios de Londres não são mais reais do que sua influência sobre mim. E lhe seria mais fácil deslocá-las com suas mãos de mulher do que afastar da minha vida sua presença constante e sua influência. Aqui em toda parte. Hoje e sempre, Estelle. Até a última hora da minha vida, Estelle, viverá no íntimo do meu ser, será uma parte do pouco de bem e do pouco do mal que há em mim. Mas, quando estivermos longe um do outro, nas minhas recordações eu a associarei sempre ao bem, só ao bem, porque deve me ter feito muito mais bem do que mal. Apesar do sofrimento atroz que agora sinto...Oh! que Deus a guarde! que Deus a perdoe!"


s.o.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Fé Cega recomenda:

Internet é um lugar para todo gosto e todo mau gosto. Para quem quer porcaria, opções não faltam. Mas para quem quer qualidade, sobram aos montes. Como a raridade que acabo de encontrar, um lugar maravilhoso onde se pode encontrar tudo o que a inesquecível, inoxidável Elis Regina já lançou, tudo com apenas alguns cliques

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Eros uma vez...

Por aqui comenta-se, incita-se fagulhas para a fogueira inquisidora da médica que fazia aborto há mais de vinte anos. Mas talvez num ímpeto de loucura ela merecesse até um prêmio Nobel. Será que se ela não fizesse tais serviços, as moças que procuravam sua clínica iriam mudar de opinião? Esperariam lindos longos noves meses, com um marido apaixonado assistindo tudo? Receberiam de braços abertos o fruto do amor, lhe dando toda a educação necessária? Ou será que não recorreriam a formas de abortos artesanais e horripilantes? Ou será que não aceitariam a criança para transformá-la em mais um ser de nariz escorrendo, barriga vazia, acompanhado do fundo musical da mãe que entoa insistentes berros estridentes, é o som da miséria. Lógico que suas intenções eram as mínimas sociais possíveis, a prática lhe rendeu um patrimônio de mais de R$ 9 Milhões, segundo o Ministério Público Estadual. Porém há males que vem... Para... Pior.

Nessas horas surgem os mais diversos interessados preocupados com o bem estar de todos. Os que são desfavoráveis ao aborto passam a enumerar uma infinidade de soluções para uma gravidez indesejada. Camisinha masculina e feminina, pílula anticoncepcional, pílula do dia seguinte, laqueadura, vasectomia e, se duvidar até tabelinha e coito recolhido. Muito fácil chegar com o balde d’água depois que o incêndio já destruiu todo o patrimônio histórico. Pelo visto é impossível lembrar os acontecimentos que antecedem uma gravidez, ou até mesmo o próprio ato sexual que é muito prático de ser feito e bem menos exigente, uma das poucas coisas praticadas em todas as classes sociais.

Para as mais desfavorecidas onde se encontram diversos problemas; a baixa escolaridade, o emprego ruim ou até a ausência de nenhum, péssimas moradias em péssimos lugares e obviamente sem nenhum lazer, a única diversão que lhes resta é sexo. Por isso teorizá-lo não é a melhor saída. Deve ser feito livremente, sem burocracia, sem parâmetros, se assim não for vai parecer mais um requerimento em repartição pública do que um ato de amor ou de prazer que seja. Por isso surgem olhos atarantados, discursos moralistas, jurisprudenciais, sobre o futuro da família possuidora da penca de filhos. Não pensa na hora de fazer? É claro que não. E quem pensa? Quem se previne já é praticamente movido por automatismos, estigmas sociais. Mas pensar... Julgar é muito simples.

Continua...

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Melhor idade?

Idosos, debilitados ou não, são vistos todos os dias com suas vidas insistentes pelas ruas. Amargurados em hospitais. Lugares reservados ocupados dentro do ônibus. Ações sociais que querem lhes dar prazer, os bailes da terceira idade. As praças refesteladas de dominós e damas. Trabalhadores da informalidade: pipoqueiros, picolezeiros, vendedores de churros, de chipas, camelôs. Vítimas de mais um terrível descaso social.

Políticas baratas é a única coisa que o desgoverno faz para homenagear os patriarcas e matriarcas de quem já levaram tudo, até a dignidade. É muito cômodo apontar a falta de escolaridade dessas pessoas como o fator responsável pelos seus Estados de miséria. Eles não estudaram porque usaram esse tempo para enriquecer calhordas que só têm o poder de usurpar até a alma dos humildes com a desculpa de que o trabalho dignifica o homem. Onde está a dignidade de pais, mães, avós e avôs, quando precisam dos postos de saúde? Por que é que precisam implorar a piedade da burocracia para conseguir uma aposentadoria de fome? Nessas horas já não importa a força braçal desses seres. Já ninguém lembra se hoje a agricultura rende milhões nos bolsos de alguns é porque alguém lá atrás plantou sementes que eram quase como moedinhas de ouro. Mas que importância isso tem né?

Agora apenas a velhice aparente desses homens e mulheres é o que os envolve numa compaixão, numa bondade alheia, que se resume no máximo à gentileza quase obrigatória do jovem que cede o lugar à senhorinha que cambaleia dentro da condução lotada que mais parece uma cela de penitenciária em dia de rebelião e, a preocupação social desse jovem se finda apenas num sorriso forçado depois da sua boa ação do dia. Rugas, ossos fragilizados, mãos trêmulas, visões e audições inexistentes, tosses, espirros, são os únicos troféus, as medalhas de honra ao mérito que os nossos heróis derrotados podem ostentar quando continuam no suposto convívio familiar, pois toda a vida que outrora dava indícios de um futuro glorioso se dissipou dando margem à impaciência dos filhos e netos que se cansam de ouvir as velhas histórias, não passam de estorvos para os seus descendentes e para o poder público. Os feitos dos idosos não os levaram a lugar algum, precisam agora transpor suas reminiscências às atividades próprias para a idade e saúde. O que podia existir de melhor na abordagem tradicional das escolas se perdeu, o culto ao passado, a vontade de valorizar as grandes obras da humanidade. Valorizar obras, feitos! E não formas físicas decadentes que todos nós estamos arriscados a ter um dia.

Parece que só os idosos comuns, anônimos, são lembrados pela idade que têm e não pelas façanhas gloriosas da juventude. Ninguém se solidariza com a idade avançada de Fernanda Montenegro, Jô Soares, Laura Cardoso, Ariano Suassuna, Bibi Ferreira, Paulo Autran e tantos que assim como muitos outros brasileiros também estão em plena atividade, ainda que desconhecidos. O que é arte nessas horas? Será que insistir pela vida no meio de tanta miséria, de tanta humilhação e ainda conseguir escancarar sorrisos e simpatia no meio de todo esse inferno urbano também não é uma forma de arte digna de mídia, de admiração de todos os intelectuais e todas as possíveis homenagens?

Só desordem e retrocesso no meio das vinte e sete estrelinhas que cada dia brilham menos...

t.c.s.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Orgasmo Literário


Assíduos leitores têm a péssima e maravilhosa mania de querer e tentar fazer com que o mundo inteiro saia lendo de uma hora para outra, claro que obrigatoriamente que essa literatura seja Literatura de máxima qualidade e não apenas um mero volume comercial que enfeitam as mãos e despertam maciços comentários. Laboriosa missão, essa de seduzir intelectualmente.

Hoje há ainda que de forma inconsciente a tentativa de se excluir o prazer tátil das coisas belas. A tv já fincou seus fios na parede do canto da sala há quase seis décadas. A internet dispensa a presença física até para fazer sexo. Um envia desenvia de foto por celulares e máquinas digitais que não acabam mais. Jornais que se abrem na tela do computador. Até o pão vem no saquinho plástico, o que dá pra perceber que o papel parece querer fugir das nossas mãos. Para muitos bons amantes da celulose, isso só passa de mera divagação. Quem dera fosse, historiadores já se preocupam com o que anda sumindo dos computadores de Bush. Para muitos internautas que rezam faz tempo suas cartilhas virtuais, livro já é coisa do passado.

Leitura parece ser coisa obsoleta para novas gerações, se restringem apenas ao bom internetês de orkut e msn. Ás vezes é com certo pesar que se esculhamba paulo coelho, códigos da vintte, augusto curi e outros do estilo auto-destruição. Será que realmente é melhor não ler nada do que usufruir de tais obras? Será que uma crítica ferrenha a ídolos comerciais não poderá acarretar em algo traumatizante e não-leitura de mais nada? Uma repulsa a qualquer nova e boa sugestão como forma de protesto?

Ler é de fato um prazer único que só se descobre experimentando, como tudo na vida. Se é bom ou ruim. Se vai gostar ou não, são coisas que só podem ser descobertas depois do primeiro contato e muitas vezes mais que um. Todo mundo precisa ter o livro da sua vida. Aquele que merece sempre ser indicado, mesmo que ninguém aceite tal sugestão. Esse é o grande barato, o virgem literário nunca vai conseguir comer a primeira obra por meio de indicações. Afinal, as bibliotecas são como prostíbulos de luxo e os livros são damas da noite que exibem ao menos seus perfis para encantar os olhos de transeuntes desavisados ou não, são personificações da tentação, são imãs inevitáveis, são fogos paradisíacos para quem quer se queimar.

Ler é como uma droga. A primeira vez que se experimenta um prazer estonteante contamina todo o corpo, desnorteia os sentidos da alma e da mente, na segunda talvez nem tanto, mas na terceira parece que vem, ou na quarta não vem nada, mas o fato que a única possibilidade que existe de alcançar o velho prazer inicial é aumentar cada vez mais a dose, até morrer com a overdose do saber.

Para se gostar de ler é indispensável uma sensação indizível, que se rende apenas a míseros sussurros de silêncio para poder sentir, atingir o inatingível, um prazer totalmente individual. Ah, meu caro! Para se gostar de ler é preciso ter as pontas dos dedos muito apuradas, muito sensíveis, sensatas, inconseqüentes, libidinosas, ainda que românticas, para que elas possam ir lá ao clitóris, no ponto G da literatura e nesse mesmo momento proporcionar e ter algo que não se alcança nem mesmo com a indicação dos mais doutos leitores, o prazer inenarrável do principio da infinidade, o prazer de ser ter o primeiro orgasmo literário.

t.c.s.

domingo, 5 de agosto de 2007

Baixio das bestas

“No cinema você pode fazer o que você quiser”, essa é uma das falas do personagem do inoxidável Matheus Nachtergaele. Pode realmente fazer o que quiser, principalmente enganar o espectador na maior cara-de-pau. (já explico!)

O filme é de uma realidade cruel, que sangra os olhos de quem vê. Tem tudo o que não presta. Pedofilia, prostituição em prostíbulos de quinta categoria, drogas, bebedeira, violência, insensatez, má fé. Enfim uma coletânea de catástrofes.

Tudo se passa num cenário de um aparente pacato vilarejo da Zona da Mata de Pernambuco. Heitor, um idoso taciturno e moralista (Fernando Teixeira), se vale das vantagens do velho ditado que diz que a desculpa do aleijado é a muleta. Impossibilitado de trabalhar vê a neta Auxiliadora (Mariah Teixeira) - li em resenhas que na verdade também é sua filha - como sua galinha de ovos de ouros. Obriga-a trabalhar de lavadeira e para reforçar o orçamento leva a menina todas as noites para um posto de gasolina e lá a expõe nua, como uma estátua sexual viva, para o deleite de caminhoneiros e outros homens acéfalos, ninfomaníacos e pedófilos. Não havia sexo, pois o velhote e veiaco sabia que se isso acontecesse, a jovem poderia fugir dele e seguir o caminho da prostituição por si própria. A interpretação da estreante Mariah Teixeira é singular, fulgurante, marcada por cenas quase sempre silenciosas, impregnam-se os gestos, os olhares, as expressões melancólicas, angustiantes que surgem em seu rosto e dão um quê de desespero, de fuga.

Em um outro ambiente, liderado por Everardo (Matheus Nachtergaele) e Cícero (Caio Blat ) tudo é regado com muita bebedeira, drogas e messalinas, mulheres que são tratadas como animais de fazer sexo, entre elas destaca-se a brilhante interpretação de Dira Paes, uma biscatinha que consegue marcar como ninguém sua presença na trama. Nesse axioma infernal paralelo à história de Auxiliadora, passa a se desenhar qual será o futuro da heroína derrotada, isso se ela continuar viva.

Uma realidade monstruosa que escapou dos interiores do brasil- afinal não é só no massacrado Nordeste que isso acontece- e veio para na tela dos cinema para açoitar os olhos de quem está acostumado com finais finalizes, com verdades aproximadas, eufemezidas. Não! Em Baixio das bestas é tudo cru. Uma denúncia de impunidade, de passividade de um país que se fecha para um crime hediondo que acontece todos os dias.

Cláudio Assis, o mesmo diretor de Amarelo manga, vem mais uma vez para causar polêmica e pregar peças. Saí da sessão indignado, crente de que a protagonista se tratasse de uma criancinha de seus 11,12 anos, quando na verdade tem 22. Algo no mínimo impressionante! São os milagres da atuação! Se queria mostrar realidade, conseguiu! Para os incrédulos de tal façanha, que tiveram o mesmo pensamento que eu, aí vai o link, o site é da globo, que não é fonte muito fidedigna, mas vamos dar um voto de confiança, só dessa vez!

Para quem diz que o filme é chocante, eu assino. Não é indicado para pessoas sensíveis emotivas, estas estarão fadadas ao vomito ou choro. Além de tudo é feio, horroroso, além de toda a problemática dos mais variados submundos, de quebra ainda tem a nudez magerrissima de Matheus Nachtergaele e Caio Blat para comprovar o quão medonho ele é.

t.c.s.

sábado, 4 de agosto de 2007

Talentosnatos por sugestão



Com os meus quase dois metros de altura, ao longo da minha vida e do meu tamanho ouvi as mais variadas sugestões profissionais, o engraçado é nunca ninguém me consultou antes sobre o que eu realmente queria fazer e como se corpo determinasse talento e preferência.

Basquete, vôlei, natação, musculação, modelo, enfim as mais defendidas loucuras. Se corpo, estatura, definissem profissão teríamos todos os anões no circo, todas as gostosonas na prostituição, todos os afrodescentões fazendo papel de segurança em programa de humor ou quem sabe jogando bola ou como cantor de pagode, e as loiras deveriam ser todas burras.

O pior de tudo são as dificuldades enfrentadas para se alcançar rótulos. Meninas baixas e acima do peso que sonham em ser modeloatriz. Garotos que querem se espichar para entrar no basquete e assim por diante.

Tem gente que ainda acha que ser um estereótipo é uma maravilha. Não sabe quantas vezes eu tive que ouvir um "tá frio aí em cima?" ou quantas vezes já bati a cabeça, ou quantas vezes minhas pernas ficaram imprensadas no banco da frente dentro do ônibus, ou quando em pé quantas vezes atendi um pedido do clássico do "tio, puxa a cordinha!" as empresas deveriam me pagar um salário por isso.

Pense bem, antes de querer ser um rótulo da sociedade!

t.c.s.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Os políticos da minha infância

Ah que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida de quando eu acreditava nos políticos.

Nesse tempo ao contrário de todos e por incrível que pareça, o meu passatempo favorito era assistir ao horário político. Sempre tinha os meus candidatos prediletos e aqueles que eu odiava. Tinha também os comédias, que eu assistia só para dar risada das bobagens que falavam, esses ainda existem e são os únicos que provocam em mim as mesmas reações do passado. Os prediletos nunca me decepcionaram porque na maioria das vezes nem eram eleitos e quando eram enchiam as ruas de praça, de asfalto, e um festival de propagandas enganosas na tv e tudo isso me fazia crer que estava tudo as mil maravilhas. E os que eu odiava faziam de tudo para eu odiá-los ainda mais, com a velha mania de fazer oposição.

Mas o que me indignava mesmo era o fato de eu não poder votar, logo eu, que me julgava tão consciente das minhas opiniões. Por que me privavam de um direito que eu já sentia capaz de exercer?

Políticos para mim eram verdadeiros ídolos, figuras inalcançáveis, ficava emocionado quando encontrava com um numa dessas reuniões de bairro. Quando apertava a mão do corrupto então, me sentia realizado.

Chegava ao cúmulo de fazer coleção de santinhos, tinha sempre uns que eram raríssimos de encontrar, talvez os dos mais pobres, ou os que eu mais gostava. Teve uma vez que cheguei a achar que aquilo já era demais, pus fogo em tudo. Ah, como me arrependi depois, sai catando de volta tudo pelas ruas no dia da eleição.

Dia de eleição sim, esse sim era um dia de orgasmo para mim. Ficava a todo momento avisando aos familiares de como estava o andamento da fila. Ficava na janela das seções bisbilhotando, tentando ver em que a pessoa estava votando, logo essa ou o fiscal fazia um gesto de reprimenda para mim e eu saia correndo crente que ia fazer tudo de novo.

Quando surgiu a urna eletrônica, aí que eu não me agüentei de todo. Por que diabos eu não podia também dedilhar aqueles botõezinhos mágicos? Aquele barulhinho do verde de confirma me corroia. Quando que eu ia também poder desfrutar de tudo aquilo?

Acompanhava empolgado meus pais, na esperança de que ia poder assistir a votação deles, claro que isso nunca aconteceu.

Até que um dia votei pela primeira vez, no auge dos meus 16 anos, mesmo não sendo obrigado. Votei e vi que isso não tinha a menor graça. Uma longa fila, desconhecidos e conhecidos querendo puxar assunto. Já diante da urna, em menos de 30 segundos dei a oportunidade de mais um safado se eleger. Por sorte, nenhum dos meus candidatos ganhou, não favoreci corrupção.

Hoje o tempo passou e assisto com pesar a minha burrice. Jamais acreditei em Papai Noel e acreditei em políticos, logo eles que foram responsáveis por um passado de horror. Não sou mais criança e ninguém mais quer me pegar no colo quando estou com o nariz escorrendo e dizer que eu sou o futuro do Brasil. Assisti de muito perto os meios ilícitos de se chegar ao poder. Assessores invadiam minha casa e compravam a consciência de meus pais por míseros R$50,00, um carguinho de cabo eleitoral para alguém da casa, uma indicação para algum outro emprego, uma laqueadura ou uma vaguinha na creche do bairro para as crianças, qualquer coisa do tipo e o crime estava assegurado. Não vou me fazer de santo, também já recebi uma dessas quantias irrisórias, mas não votei no sujeito. Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão.

Como acreditar em mudanças? Corruptos elegem corruptos. Ingênuos elegem vilões. Enganados elegem enganadores.


t.c.s.